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Dois amigos afogados em lagoa sem protecção

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Os gritos de Lídia Muya a caminho da escola Gama Barros, no Cacém, Sintra, quebravam ontem à tarde o silêncio e os poucos murmúrios dos colegas ainda incrédulos com a tragédia que tirou a vida a Maximiano Calenda e Manuel Muya, de 14 e 16 anos – os dois jovens morreram afogados numa lagoa artificial, sem protecção, com quatro metros de profundidade num terreno baldio junto à escola. "O que vai ser de mim sem o meu menino", gritava a mãe de Manuel, inconsolável. Desfaleceu por diversas vezes no colo de familiares.

O termómetro marcava cerca de 25 graus, cenário perfeito para Vanessa, Ruben, Ivo, ‘Max’ e Manuel se refrescarem na lagoa, após terem terminado, minutos antes, o período de aulas da manhã. Muya foi o primeiro a mergulhar, mas bateu com a cabeça. Sentiu-se em dificuldades e pediu ajuda a ‘Max’, que não hesitou em atirar-se à água para salvar o amigo. Perante os olhares de terror dos colegas, acabaram engolidos pela água. Os corpos foram recuperados por mergulhadores cerca de duas horas e meia mais tarde.

Alberto Calenda, pai de Maximiano, não se conformava com a morte do filho. 'É uma hora muito complicada para mim e mal fui informado do que se tratava. E agora já não tenho o meu filho perto de mim', disse o homem ao CM, com o rosto lavado em lágrimas.

Muya tinha acabado às 13h15 a aula de Oficina de Teatro, do 7º ano, e, já acompanhado de ‘Max’, do 8º, e outros amigos, abdicaram do almoço para se divertirem na lagoa, num terreno privado. Brincadeiras que, desta vez, foram fatais para dois amigos. Segundo os colegas, já não é a primeira vez que o grupo se dirigia ao local. O alerta acabou por ser dado por volta das 14h20 e, de imediato, bombeiros da Amadora e Cacém, bem como duas equipas de mergulhadores, foram mobilizados para o local. Pelas 16h55, e depois de uma máquina ter aberto um canal lateral para diminuir a altura da água, foi encontrado o primeiro corpo. Cinco minutos depois, apareceu o segundo.

'MORRERAM MESMO À MINHA FRENTE'

'Foi horrível ver os meus amigos morrer daquela maneira. Fiquei aflita e foi por muito pouco que não me atirei também', explicava ontem à tarde, visivelmente abalada, Vanessa, a única rapariga do grupo de amigos da escola Gama Barros, do Cacém, que queriam apenas divertir-se junto à lagoa. Dois deles morreram afogados. 'O Manuel mergulhou e bateu com a cabeça e o Max foi atrás para o salvar. Fiquei tão assustada. Vim a correr para a escola a pedir ajuda, mas já foi tarde', explicava-se a rapariga às amigas, que não paravam de chorar.

Alguns colegas da escola disseram que já não era a primeira vez que o grupo seguia para aquele local. Ao que o CM apurou, tinham lá estado no dia anterior e ontem faltaram a algumas aulas na tarde fatídica. 'Eu sei que não devíamos ter feito aquilo e agora eles morreram e já não podemos fazer nada para os podermos trazer de volta', lamentava.

Ao final do dia, os pais de Maximiano e Manuel foram chamados pela escola, mas saíram da reunião revoltados. 'Não fomos avisados das mortes pela escola, mas sim por amigos. Não podemos aceitar uma coisa destas. Ainda agora não sei de nada de especial', denunciou Alberto Calenda.

'NOTIFICADO HÁ TRÊS SEMANAS': Fernando Seara Presidente da Câmara Municipal de Sintra

Correio da Manhã – Conseguiu perceber em que circunstâncias aconteceu este acidente?

Fernando Seara – Sei que um grupo de jovens veio para aqui divertir-se. Depois alguém chamou a polícia porque um deles não tinha conseguido nadar. É uma perda lamentável a destes dois jovens estudantes.

– De quem é o terreno?

– O terreno é privado. O meu departamento notificou o proprietário há cerca de três semanas [para a drenagem]. Agora o nível de responsabilidades tem de ser apurado. Em nome do município, endereço às famílias os meus sentimentos. Temos de solicitar que ninguém venha para estes terrenos tomar banho.

– Há mais lagoas como estas no município?

– Há um conjunto de lagoas nestas situações, em terrenos privados, que estão identificadas para fazerem a drenagem das águas. n J.T.

'TRAGÉDIA ERA UMA QUESTÃO DE TEMPO'

Se o que aconteceu a Max e a Muya apanhou quase todas as pessoas de surpresa, o mesmo já não acontece com Manuel Caciano, que costuma passar naqueles terrenos baldios nas suas caminhadas diárias. 'Disse várias vezes para não tomarem banho aqui porque um dia iam-se aleijar. Uma vez, um até me disse que eu não tinha nada a ver com isso', disse o morador, acrescentando: 'O que aconteceu aqui não é novidade nenhuma para mim. Várias vezes disse que um dia alguém ia morrer. E agora morreram dois miúdos. Só um cego é que não via aquilo. É um poço a céu aberto'. Manuel Caciano disse ser frequente ver miúdos a tomarem banho naquele local. 'Em dias como hoje, com algum calor, estavam sempre aqui crianças. Era apenas uma questão de tempo para acontecer uma tragédia destas'.

Vários populares no local manifestaram o seu desagrado por haver outros lagos nas redondezas.

OUTROS CASOS

QUEDA EM PEDREIRA

Élcio Domingos, de 17 anos, morreu na tarde de 17 de Agosto do ano passado numa pedreira desactivada em Pedra Furada, Negrais, no concelho de Sintra. Estava com mais três amigos quando se atirou para cima de uma bóia, mas escorregou, ficando numa zona sem pé. Não sabia nadar.

REGRESSO FATAL

A 4 de Novembro de 2007, um menino de 5 anos caiu num lago artificial do Parque do Vale Grande, na Alta de Lisboa, quando brincava com o irmão. Regressavam a casa, no bairro de Camarate, quando fizeram um desvio no caminho. Ainda foi reanimado, mas acabou por perder a vida.

BRINCADEIRA TRÁGICA

Um adolescente de 14 anos morreu, na tarde de 18 de Maio de 2007, afogado numa pedreira desactivada, junto ao bairro da Cavaleira, na freguesia de Algueirão, Sintra. David Cabral saiu da Escola Mestre Domingues Saraiva com um grupo de colegas. Numa brincadeira, David foi empurrado para a água e não sobreviveu.

NEGLIGÊNCIA MORTAL

Tiago Pereira, cinco anos, morreu afogado numa pedreira em Vila do Conde, a 14 de Julho de 2003. O tribunal condenou, em 2009, o empreiteiro responsável pelo terreno a uma pena de prisão, convertida em multa de 2500 euros, e a pagar uma indemnização 42 500 euros à mãe da criança, por homicídio negligente.

NOTAS

TERRENO: CONSTRUTORA

Segundo o ‘CM’ apurou, o terreno pertencerá à empresa de construção Pimenta e Rendeiro, que terá sido recentemente notificada pela Câmara de Sintra para a necessidade de drenagem

ESCOLA: EM SILÊNCIO

Da Escola Secundária Gama Barros, no Cacém, onde as duas vítimas estudavam, nenhum responsável da direcção quis prestar qualquer depoimento sobre o sucedido

SAÍDA: AUTORIZAÇÃO

Segundo amigos, os jovens tinham todos autorização para sair das instalações da escola à hora do almoço. Os pais das vítimas não se quiseram pronunciar sobre esse assunto



fonte: João Tavares/Magali Pinto

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